segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Morre José Cláudio Machado

Hoje, 12 de dezembro de 2011, cessou a voz campesina de José Cláudio Machado, um dos maiores intérpretes da autêntica música campeira gauchesca. Zé Cláudio, como era conhecido, foi vencedor da segunda edição da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1972, cantando "Pedro Guará", e depois não parou mais de ser premiado e reconhecido nos mais importantes festivais nativistas do sul do Brasil. Dentre os autores que mereceram sua interpretação, Mauro Moraes talvez tenha sido o mais destacado. Eu particularmente aponto o "velho" Zé Cláudio como o maior, entre todos os intérpretes de linha campeira, como foi Cenair Maicá na linha missioneira, como são César Oliveira e Rogério Mello na linha fronteiriça. Pedro Guará, Campesino, Pêlos, Poncho Molhado, Fulanos e Sicranos, Milonga Abaixo de Mau Tempo e tantas outras... Que ao menos o exemplo de autenticidade e respeito pela autóctone estampa do Zé Cláudio, possa servir de sinuelo para todos nós, que pretendemos pertencer ao legado desta estirpe, quase extinta do meio tradicionalista.


REFAZENDO OS PLANOS
(Mauro Moraes)


Quando a sina lá de fora, 
Campo afora, perde seu rumo,
A dor inventa um luzeiro
E acende seu próprio mundo,
Um potro manso preguiça
E uma mala lanhando a garupa,
O silêncio tirando um costado
E o vento que nele se amunta...

Sou de casa meu compadre e,
Além do mais, sou cantador,
As cercas que eu ando amurando
São as causas do meu desamor.

Um dia desses dou de rédeas
E de sonhos me emborracho,
Vou ser por mim, só por mim, ventania,
Talvez por sorte algum riacho...
Vou juntar na mangueira cada sonho guaxo
Que ainda não marquei,
Vou luzir na aurora um clarão de espora
Que eu nunca apaguei
Vou voltar pro rancho, pendurar o poncho
E refazer a lida,
Vou cortar os ramos, vou quinchar os anos
Que eu tenho de vida.