sexta-feira, 29 de março de 2013

O sentido pascal: Uma analogia



Em razão de estarmos vivendo o tempo da Páscoa Cristã, encontrei este texto de autoria de Ethel W. Guerstein, que diz do sentido judaico para Páscoa, ou das celebrações de Pessach, momento em que o povo judeu relembra a libertação e fuga dos Hebreus do cativeiro no Egito rumo à Terra Prometida. Diferente dos que pensam que a Páscoa surgiu na Era Cristã, devemos ter em mente que ela data de aproximadamente 3.500 anos.

Guerstein reproduz uma narrativa original de David Ben Gurion, um dos fundadores do Moderno Estado de Israel, e que também foi escolhido para ser o primeiro chefe de governo israelense, sendo eleito Primeiro-Ministro quando da formação do mesmo. Descrita no diário pessoal de Ben Gurion, nos ajuda a compreender o significado e extraordinária magnitude de Pessach, a Festa da Libertação.

Em seu diário, Ben Gurion conta que em 1954, como Primeiro-Ministro, viajou para os EUA para reunir-se com o Presidente Eisenhower e solicitar apoio e assistência em momentos difíceis para o jovem Estado de Israel.
Imagem de David Ben Gurion

Em uma de suas reuniões com o então Secretário de Estado, John Foster Dulles, este o enfrentou com um elevado grau de arrogância e perguntou: "Diga-me, Senhor Primeiro-Ministro, a quem você e seu Estado realmente representam? Por acaso os judeus da Polônia, Iêmen, Romênia, Marrocos, Iraque, a União Soviética e o Brasil são a mesma coisa? Depois de 2.000 anos de diáspora é possível falar de um único povo judeu, de uma única cultura, tradição ou costume judaico?".

Ben Gurion disse: "Veja, Sr. Secretário, há apenas 200 anos, o navio Mayflower partiu da Inglaterra levando a bordo os primeiros colonos que se estabeleceram no que é hoje esta grande potência democrática, os Estados Unidos da América. Peço-lhe para ir até a rua e perguntar a dez crianças americanas o seguinte: Qual era o nome do capitão do navio, quanto tempo durou a viagem, o que a tripulação comeu durante a viagem, e como se comportou o mar durante a viagem marítima ? Provavelmente não vai obter respostas coincidentes.

Mas peço que atente para o seguinte. Há mais de 3.000 anos os judeus saíram do Egito. Gostaria então que, em algumas de suas viagens ao redor do mundo, tente encontrar-se com dez crianças judias em diferentes países, fazendo-lhes perguntas sobre o nome do capitão daquela travessia, quanto tempo durou a viagem, o que comeram durante esta viagem e como se comportou o mar. Quando você tiver as respostas, e se surpreender com elas, tente se lembrar e reavaliar a questão que acabou de me fazer."

Feliz Páscoa ou Chag Pessach Sameach!!!

Leia mais sobre o tema no link abaixo:

Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo


Uma visão sem preconceitos da
relação dos judeus com o dinheiro *



* Texto original de Marilia Pacheco Fiorillo
Capa do livro de Attali



Os fundadores da religião monoteísta foram também os pioneiros do espírito capitalista – essa é a tese de Jacques Attali em Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo (tradução de Joana Angélica d'Avila Melo). 

Judeu franco-argelino, Attali foi por dez anos conselheiro do presidente francês François Mitterrand, fundou o Banco Europeu pela Reconstrução e Desenvolvimento e a PlaNet Finance, ONG de captação de microcréditos para países pobres. Polivalente, entre seus trinta livros há ensaios, biografias, romances e até uma peça em parceria com o ator Gérard Depardieu. 

No prefácio a Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo, o presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, rabino Henry Sobel, confessa que chegou a temer que o livro municiasse o anti-semitismo que associa a imagem da comunidade à ganância – vide o judeu Shylock, de O Mercador de Veneza, de Shakespeare, que chega ao cúmulo de pedir uma libra da carne do inadimplente Antonio. Temor desnecessário, porém: a graça do livro é exatamente a de devolver o insulto como se se tratasse de elogio. 

Não há nada de execrável com o dinheiro, sugere Attali.

Essa tática bumerangue vem acompanhada de excelente bibliografia e uma escrita coloquial, necessárias sobretudo pela ambição de abarcar, em 600 páginas, de Abraão a Ariel Sharon

De lá para cá, os judeus teriam sido tão detestados quanto desejados, pois indispensáveis em seus préstimos. Prova disso é que, a cada vez que uma perseguição começava, eles eram vítimas das acusações mais estapafúrdias, como a de bebedores de sangue ou portadores da peste, mas nunca foram chamados de escroques. Tal injúria não conviria aos próprios inquisidores, que num dia perseguiam e no outro pediam crédito, entre eles inúmeros papas. 

Shylok, da obra "O Mercador de Veneza"
Quando as capitais do mundo eram Babilônia ou Alexandria, lá estavam eles inventando o cheque, a letra de câmbio e outras técnicas de lastrear o esplendor. 

Sem o financiamento dos judeus conversos, Colombo não teria descoberto a América. 

Sem o apoio dos banqueiros Rothschild, tesoureiros da "Santa Aliança", Napoleão Bonaparte possivelmente não teria sido derrotado. 

Emprestar, mesmo que a juros elevadíssimos, era o passaporte para a tolerância: reis precisavam dos judeus para pagar suas guerras; comerciantes dependiam de seus créditos; até um modesto vizinho do vilarejo sabia a quem recorrer. O que nunca impediu, entretanto, violentas ondas de anti-semitismo nessa clientela. 

Em Alexandria elas eram endêmicas. Os reis espanhóis Fernando e Isabel, mais ela que ele, instigada por seu confessor dominicano, Torquemada, retribuíram a generosa contribuição de Isaac Abravanel, que lhes permitiu reconquistar Granada dos muçulmanos em 1492, com um decreto oferecendo aos judeus a conversão forçada ou a expulsão.

Nessa eterna convivência de soslaio, a era de ouro para os judeus foi sob as asas do Islã. "Os judeus jamais conheceram melhor lugar para residir que esse Islã do século VIII", escreve o autor. Os de Damasco receberam os muçulmanos como libertadores. O califa Omar confiou-lhes a coleta de impostos e contou com a ajuda de guerreiros judeus para conquistar Alexandria. O califa Harun al-Rachid, o das Mil e Uma Noites,cercou-se de conselheiros judeus, enviando um deles como seu embaixador junto a Carlos Magno. 

Pode não estar no Corão, mas está na Bíblia: abominável é a pobreza, o juro é sinal da fertilidade da riqueza

Essa saudável perspectiva vem desde Salomão, o mesmo do Cântico dos Cânticos, que, ao inaugurar seu célebre Templo no século X a.C., inaugurava também um sistema de taxação e o primeiro banco com caixa-forte da história. Os juros (em hebraico, nechekh, que significa mordida) eram permitidos só fora da comunidade. 

Com o passar do tempo e a proibição, pela Igreja Católica, de que os judeus exercessem outros ofícios, o papel de prestamista não só foi o que lhes restou, como nunca os denegriu, ao menos do ponto de vista rabínico. 

Caricatura do judeu ávido pelo dinheiro
Se a Igreja Católica elogiava a pobreza enquanto seus bispos acumulavam propriedades, dois textos fundamentais do judaísmo, o Talmude de Jerusalém e o da Babilônia, codificaram com comovente falta de hipocrisia as margens para taxas de juros.

A paternidade do capitalismo, com licença, diz Attali, é dos judeus

O ponto alto do livro é o debate com o sociólogo alemão Max Weber, autor do célebre A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, para Attali uma "suma de ignorância e ingenuidade". Weber dizia que os judeus haviam inventado um "capitalismo de párias", de pura extorsão, em contraste com a ética da poupança, da produtividade e da racionalidade próprias do protestantismo. 

Com ironia, o autor argumenta que a "ética da poupança" weberiana, se levada ao ideal, redundaria na derrocada do capitalismo, que necessita de arrojo e risco, não de pacata mesquinharia. 

Dois judeus que nunca esconderam suas dificuldades com o dinheiro são citados: Karl Marx e Sigmund Freud. Marx, a matriz do comunismo, relacionou o judaísmo aos males capitalistas. Freud associou o dinheiro, simbolicamente, à matéria suja que se deve expelir. Attali os trata como "fantasias" equivocadas sobre o tema.

A força da presença judaica, sugere o autor, se deve à sua qualidade nômade, cosmopolita, nos créditos concedidos, mas sobretudo na cultura disseminada. Como diz o adágio: a primeira geração funda bancos, a segunda os dirige e a terceira dá músicos, pintores e psicanalistas. É na identidade cultural, não territorial, que esse povo vem se perpetuando – demograficamente irrisório, culturalmente imponente. E se a globalização trará a multiplicação das diásporas, "o mosaico movediço de que será feito o mundo", o livro de Attali traz também uma lição sobre a necessidade urgente de demolir o muro dos preconceitos. Afinal, Rute, a bisavó do rei Davi, nem mesmo judia era.

A alma do negócio
"Equivocadamente, a ensaísta Hannah Arendt escreverá: 'Não existe melhor prova desse conceito fantástico de um governo mundial judaico do que essa família, os Rothschild, cidadãos de cinco países diferentes, poderosos em cada um, em estreitíssimas relações de negócios com pelo menos três governos, sem que os conflitos entre nações tenham, sequer por um instante, abalado sua solidariedade de banqueiros'. Na verdade, veremos que eles não concedem nenhum empréstimo importante sem obter, em seus respectivos países, a concordância explícita do ministério competente. São fiéis somente a seus governos e não esquecem que a chave do sucesso – e da moral – dos judeus continua sendo a mesma há dois milênios: nada é bom para ele se não o for também para seus vizinhos, estejam onde estiverem."
Trecho de Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo

terça-feira, 26 de março de 2013

Aceita um mate? Socializado ou capitalizado?


Cuba ainda vive sob o embargo americano, a China diz ser uma nação socialista, assim como a Coréia do Norte. Porém, desde a penúltima década do século XX, há quem diga que o socialismo ruiu junto com dois de seus mais emblemáticos símbolos, o Muro de Berlim e a antiga União Soviética, confirmando o triunfo do capitalismo.

Chimarrão socializado
Será mesmo? E o que isso tem de ver com um bom chimarrão?

Primeiro temos que conceituar:

Capitalismo: Sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção e distribuição, na busca do lucro da livre concorrência e do trabalho assalariado. Tal sistema depende de existirem no mercado, capital e trabalho livre, onde as mercadorias são o capital, os meios de produção e a matéria-prima. A mercadoria dos trabalhadores é sua força de trabalho, a qual é vendida em troca de salário. O lucro advém da diferença entre o valor dos bens produzidos e o custo da produção.

Socialismo: Sistema político que defende a primazia dos interesses coletivos da sociedade sobre os do indivíduo, e propõe, na produção e distribuição de bens, a ação coordenada da sociedade em lugar da iniciativa privada, a fim de compartilhar a produção.

Aqui é que entra o chimarrão.

Certa vez, durante uma mateada numa manhã de inverno, em meio à discussão sobre capitalismo/socialismo, ante a dificuldade de se oferecer uma resposta definitiva, meu amigo e compadre Pablo Bortolanza nos deu a solução, e serviu-se da ocasião para propor o que eu considero o melhor exemplo para dissipar dúvidas sobre o que é socialismo e o que é capitalismo. 

Disse ele:

"Vejam, se eu venho aqui de posse da minha mateira, pego minha cuia e minha erva, ajeito um mate bem cevadinho, ajujado à preceito, derramo a água quente da minha térmica e distribuo o mate pela roda de amigos, eu socializo o chimarrão. Agora, se eu faço todo este processo, dispondo do capital, que é o mate pronto, os meios de produção, que é o ato de cevar o mate, e da matéria-prima, que são a cuia, a bomba, a erva, a água e a térmica, e ao invés de compartilhar o mate (afinal, por quê dar de graça?) eu ofereço para vocês cada cuiada ao custo de R$ 2,50 (dois pila e cinquenta), então eu capitalizei o chimarrão"!

Se ainda assim, você não conseguiu diferenciar socialismo de capitalismo, com todo o devido respeito, você realmente é muito burro...
Chimarrão na "linha de produção"

terça-feira, 19 de março de 2013

Cidades inteligentes

Parque da Cidade, chamado Parque do Lago. Guarapuava-PR

Cada vez mais a ideia de converter os aglomerados urbanos em ambientes inteligentes vai sendo aceita nas discussões acerca das cidades.

O arquiteto e urbanista Jaime Lerner, independentemente das opiniões políticas, é reconhecido como um dos grandes pensadores e realizadores de programas que transformaram Curitiba, a partir do início dos anos 70, em uma cidade que foi referência na redução das complexidades e projeções trágicas que hoje afligem a maioria das metrópoles do mundo.

Pregando termos bem esquisitos para a época, como sustentabilidade, mobilidade, transporte coletivo de superfície, reciclagem entre outros, Lerner explorou diversas áreas ligadas à gestão pública para ser o pioneiro em reinventar a cidade. Disto, entre tantos pontos que se enraizaram na capital paranaense e depois foram implantados em diferentes cidades do mundo, ficaram heranças como a criação de vias de tráfego exclusivas para ônibus, sistema integrado de transporte coletivo, conscientização da necessidade de maior aproveitamento das fontes renováveis de energia, separar o lixo orgânico do não orgânico, uso racional do automóvel, revitalização de espaços públicos para maior interatividade da população, e por aí vai.

Crítico dos modelos urbanos que separam moradia-lazer-trabalho-consumo, ele defende o compartilhamento dos locais de convivência. Em outras palavras, ele é contra reservar grandes espaços para condomínios fechados que isolam os moradores dos demais, ou de instalar áreas destinadas apenas à alguma atividade específica, ou seja, ao se instalar nos arredores da cidade grandes empresas que vão gerar muitos empregos, primeiro deve-se levar infraestrutura urbana de modo que as pessoas possam morar próximas aos locais de trabalho, sem criar guetos ou agrupar gente aqui e ali, a partir de religião, classe laboriosa ou nível econômico, que possa ser vantajoso para alguns e gesto de segregação para outros.

Para ele, quanto mais diversidade melhor, tudo "junto e misturado".

Lerner, que se afastou da vida pública no ano de 2002, ainda viaja pelo mundo participando de discussões sobre temas relacionados ao termo Cidade Inteligente, que no fundo, discutem os mesmos programas, projetos e ações que ele próprio começou a executar pelo menos quatro décadas atrás.

Abaixo o link com interessante entrevista recente que Lerner concedeu à Fernando Gabeira no programa "Capital Natural", da Band News.





quinta-feira, 7 de março de 2013

Ganância e Ambição

Ganhar é bom!

A ganância é boa, já disse Gordon Gekko, personagem vivido por Michael Douglas no filme Wall Street, do diretor americano Oliver Stone.
 
Há quem prefira o limite da ambição, justificando que ambição é querer apenas ganhar, e ganância é querer ganhar sempre e ganhar tudo. Seja lá como for, tenho observado constantemente a presença de ambição e ganância, inclusive as minhas, por onde quer que se olhe.
Gordon Gekko, símbolo da ganância desmedida

Alguém já me disse que sou um bom observador.

Interessante como se aprende tanto observando o comportamento de indivíduos enquanto indivíduos, e quando pertencentes à determinadas tribos sociais. Ainda mais se devidamente identificados seus desejos de ganância e ambição. Quando indivíduo, no más das vezes, ele sorri, oferece as mãos estendidas e o abraço fraterno. É a ambição por algum ganho futuro que nele se manifesta.

Mas, quando é parte ou é liderança coletiva, ilustra postura completamente diferente. Interessante também constatar o indivíduo ou grupo em situações opostas: Quando vão bem, vencem e são apontados como ganhadores, nunca reclamam, esbravejam ou se lamuriam, e é claro, facilmente reconhecem-se como grandes vitoriosos, melhores que tudo e que todos. E aqui neste ponto, também são gananciosos

Já, se perdem, rapidamente esquecem de quando ganhavam, se irritam, ficam enfurecidos, inconformados e revoltosos, e rapidamente apressam-se em apontar os vilões culpados pela sua derrota, sem sequer cogitar enxergar mérito algum naqueles que tenham vencido, nem tampouco avaliam que os ganhadores de hoje foram ávidos perdedores ao longo do tempo, ao contrário deles, que embora hoje perdedores, conviveram tempos contabilizando repetidos ganhos em suas pretensões. Ganância novamente.

Resulta portanto desta singela análise, extrato afirmativo de que a ganância prevaleceu, salientando-se duas vezes sobre a pobre da ambição.
Cartaz do filme Wall Street

Creio que é da natureza humana tal ilustração social, e talvez por isso, a Sociologia existe. Você também certamente já pode perceber comportamentos semelhantes aos que aqui coloquei. Então, partindo desta minha brevíssima explanação, humildemente solicito a opinião e a ajuda de tantos quantos queiram se manifestar. Ah! Reparem que eu não especifiquei indivíduo algum, bem como não faço menção à este ou àquele grupo. Minhas observações são acerca de atitudes que aduzem a reações, que podem dizer respeito à ganhos e perdas de investidores do mercado financeiro, de grandes empresários e seus executivos, de equipes de gincanas e seus líderes, de times de futebol e seus técnicos, de sócios de grandes escritórios de advocacia e sua banca, de candidato eleitoral e seus correligionários, do general e seus oficias e assim por diante. 

E você, quando líder ou parte da coletividade, ou mesmo individualmente, considera-se alguém ambicioso ou
pratica a mais pura e voraz ganância em seus objetivos?
Eu já tenho minhas respostas, mas por hora, vou guardá-las apenas para mim.