Pequeno judeu observado por Rabino e seu Livro |
Contando com apenas 0,2% da
população mundial e 2% da população americana, os judeus ganharam 22% de todos
os Prêmios Nobel, 20% das Medalhas Fields para matemáticos e 67% das Medalhas
John Clarke Bates para economistas com menos de 40 anos. Judeus também ganharam
38% de todos os prêmios Oscar para melhor diretor, 20% dos Pullitzer Prizes
para não-ficção e 13% dos Grammy Lifetime Achievement Awards.
Essas
informações constam em uma nota de rodapé do livro Civilization,
de Niall Ferguson, de 2011. Desde então, judeus acumularam mais alguns desses
prêmios. Além disso, Israel, com apenas 8 milhões de habitantes, é a grande
locomotiva mundial quando o assunto é tecnologia, e possui mais empresas
listadas no Nasdaq do que toda a Comunidade Europeia junta.
Diante
desses dados, o leitor pode concluir que os judeus fazem parte de um grande
complô mundial, uma conspiração planetária que os coloca no domínio de tudo,
como queriam os antissemitas que produziram Os Protocolos do Sábio de Sião; ou então que eles
possuem uma inegável superioridade genética. Não aprecio nenhuma das duas
alternativas, e fico com uma terceira, mais plausível: o ambiente cultural do
judaísmo é um fator de diferenciação que abre certa vantagem na hora de
competir no mercado.
Eventual vantagem não seria apenas ou principalmente aspecto religioso, muito menos genético, e
sim cultural. No princípio era o verbo, e desde então também. O conteúdo
verbal, transmitido de geração em geração, é o que forma esse continuum único,
que sempre serviu como cola para unir os hebreus e lhes transmitir certas
características interessantes.
Viria do legado das palavras de
antepassados a inspiração para explicar a continuidade judaica, reconhecem que
uma das características mais marcantes desse legado é justamente a ousadia de
questionar, de inovar, e isso faz toda a diferença. Não só os judeus foram historicamente
mais alfabetizados, por depositar grande importância na palavra, como eram
questionadores e adoravam um bom debate.
“Nenhuma civilização antiga”,
escreveu Mordecai Kaplan, “pode oferecer um paralelo comparável em intensidade
com a insistência do judaísmo em ensinar os jovens e inculcar neles as
tradições e costumes de seu povo”.
Judeus aprendem desde cedo a
perguntar, questionar. No Talmude, uma opinião inteligente de um jovem às vezes
prevalecia sobre a de seu mestre. Um bom aluno deve ser livre para criticar seu
mestre. No judaísmo, os alunos eram encorajados a se erguer contra o professor,
discordar dele, tentar provar que ele estava errado.
Como povo exilado, os judeus
compreenderam cedo que precisavam transmitir a memória nacional em forma de
textos, o que permitiu esse foco na educação.
Enquanto
outras culturas tratavam as crianças como “puras”, vendo inocência na
ignorância, os judeus eram mais realistas e sabiam que crianças não eram anjos,
e que precisavam ser aculturadas.
Bebê manuseando livro |
Essa
educação baseada em perguntas era espirituosa, tratava de ideias, encorajava a
curiosidade e exigia leitura.
A
propensão a discutir e o humor geram aquele outro traço judaico, que é a
irreverência. Bom exemplo dela, foi quando um repórter da BBC perguntou a um rabino
de Jerusalém qual a sensação de rezar pela paz entre judeus e árabes no Muro
Ocidental (das lamentações) nos últimos trinta anos, e ele respondeu: “É como
falar com um muro de tijolos”.
Sem valorizar o martírio ou a
morte, e sim a vida e a sobrevivência, até porque os judeus já tinham sofrido o
suficiente com o exílio e as perseguições. Isso alimentava a esperança, o
desejo de superação, e tudo por meio da educação formal, da leitura dos livros
sagrados. Foi assim que os judeus preservaram sua civilização, mas uma
civilização viva, aberta ao questionamento, ao novo, com disputas infindáveis
de diferentes interpretações. Bastam três judeus para termos quatro opiniões
diferentes, diz a “piada”.
Se há uma razão para o relativo
sucesso dos judeus, talvez a explicação esteja aí: nessa obsessão pela palavra,
nesse incrível legado transmitido por meio da educação. O Povo do Livro, como é
dito. No princípio era o verbo. E desde então continua sendo…
Rabinos em momento de leitura coletiva |
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