sábado, 15 de agosto de 2015

Notas sobre a Guerra da Vida

CHAVES PARA A GUERRA *

    Pode-se definir a realidade como uma série nítida de limitações a todos os seres vivos, sendo a morte a última fronteira. Temos apenas uma determinada quantidade de energia para gastar antes de nos cansarmos; somente uma quantidade na forma de alimento e recursos está disponível para nós; nossas habilidades e capacidades vão apenas até esse ponto. Um animal vive dentro desses limites: ele não tenta voar mais alto, correr mais rápido ou gastar uma energia sem fim acumulando uma pilha de comida, pois isso o deixaria esgotado e vulnerável a ataques. Ele simplesmente tenta aproveitar ao máximo o que tem. Um gato, por exemplo, pratica instintivamente uma economia de movimentos e gestos, jamais desperdiçando o esforço. Pessoas que vivem na pobreza também têm uma forte consciência de seus limites: forçadas a tirar o maior proveito do que têm, elas são infinitamente inventivas. A necessidade tem um poderoso efeito sobre sua criatividade.

Jiu Jitsu: a "alavanca", melhor resultado com o menor esforço
    O problema enfrentado por aqueles de nós que vivem na classe média ou em sociedades mais ricas é que perdemos a noção de limite. Somos cuidadosamente protegidos da morte e podemos passar meses, até anos, sem pensar nela. Imaginamos um tempo infinito a nossa disposição e aos poucos nos afastamos cada vez mais da realidade; imaginamos uma energia infinita a qual recorrer, pensamos que podemos ter o que desejamos simplesmente nos esforçando mais. Começamos a ver tudo como ilimitado - a boa vontade dos amigos, a possibilidade de riqueza e fama. Algumas aulas e livros a mais e podemos ampliar nossos talentos e habilidades até nos tornarmos pessoas diferentes. A tecnologia pode tornar tudo realizável.

    A abundância nos faz ricos em sonhos, pois em sonhos não há limites. Mas isso nos deixa pobres em realidade. Ficamos moles e decadentes, entediados com o que temos e precisando de choques constantes para nos lembrar de que estamos vivos. 

    Na vida você tem de ser um guerreiro, e guerra requer realismo. Enquanto outros podem encontrar beleza em sonhos infindáveis, guerreiros a encontram na realidade, na consciência de limites, tirando o melhor partido do que têm. Como gato, eles procuram a perfeita economia de movimentos e gestos - o modo de conferir a seus golpes a maior força com o menor esforço. A consciência que eles têm que seus dias estão contados - de que podem morrer a qualquer instante - os mantém com os pés na realidade. Há coisas que eles jamais podem fazer, talentos que jamais possuirão, metas grandiosas que jamais alcançarão; isso dificilmente os preocupa.
O Guerreiro

    Guerreiros concentram-se no que eles têm, na força que eles possuem e que devem usar de forma criativa. Sabendo quando diminuir a marcha, renovar, economizar, eles duram mais que seus adversários. Eles jogam no longo prazo.

* Fonte: "33 Estratégias de Guerra", de Robert Greene