sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O Poder na Política*

Falar em política é falar de poder


Publicado em: 01/06/2013
Nenhum conceito é mais usado na linguagem da política  do que o de poder. Falar em política é falar em poder. Entretanto, este é um conceito da vida diária, que se aplica também para muitos outros aspectos da vida, diferentes da política.
Além disso, poder é um conceito muito próximo de outros, particularmente do termo influência.
O que é, então, verdadeiramente o poder na política? em que consiste? qual a sua função na vida social? O que o distingue de outros termos assemelhados, como influência? Porque as sociedades organizam-se com base no poder, e não em outros princípios?
O poder pode ser visto como uma massa de energia que a sociedade coloca nas mãos do governante, dentro de marcos legais estabelecidos, para realizar os objetivos dos seus membros.
Esta massa de energia é composta de recursos financeiros , de ativos instalados e em operação (usinas, estradas, redes de energia etc), e de pessoal contratado para operar as instalações públicas e fazer a “máquina” do governo funcionar, em todas as suas frentes.
Quem comanda esta massa de energia, detém o poder, comanda o governo, assumindo a responsabilidade pelo funcionamento do governo (provendo bens e serviços públicos para a população) e pelas suas realizações (tudo que é feito além do que já existia).
Este é o poder político, em qualquer nível. O enunciado acima é válido para uma cidade, para um estado assim como para o país.
Luta-se pelo poder exatamente para adquirir o comando desta “massa de energia”, com a qual torna-se possível realizar objetivos de natureza coletiva.
Por sua própria natureza, o poder não convida, manda; não sugere, determina. Há toda uma estrutura legal que legitima inclusive o “uso ou ameaça do uso da sanção física”, para garantir que as decisões do poder (obtidas em respeito à Constituição) sejam cumpridas e obedecidas pelos cidadãos.
Portanto o poder é uma energia muito eficiente para realizar tarefas e para afetar o comportamento das pessoas.
Enquanto a influência, para induzir um comportamento, dependerá sempre da aceitação do influenciado, da sua anuência,
o poder induz o comportamento desejado,  independente da anuência, aceitação, boa ou má vontade do indivíduo afetado.
A influência é sugestiva,  poder é autoritário, embora, numa democracia, seja o exercício de uma autoridade legítima, dentro dos marcos legais estabelecidos.
Porque as sociedades se organizam com base no poder e não com base na influência ?
Porque a provisão de bens e serviços públicos, da qual depende a própria sobrevivência da sociedade, exige que o governo tenha capacidade de ação e meios à sua disposição para executá-los, mesmo contrariando interesses de sua população.
Ninguém gosta de pagar impostos, e, se este pagamento fosse voluntário, não haveria como financiar o governo; ninguém gosta de ir para a guerra, e se esta decisão fosse voluntária, não se poderia organizar as Forças Armadas para a defesa nacional.
Da mesma forma, todos gostariam de dirigir seus carros como bem entendem. Mas se isso ocorresse o trânsito se tornaria um caos.
Bertrand Russell
Os exemplos podem ser multiplicados, mas em todos os casos nos defrontaremos com a realidade de que, se a vida social tivesse a sua base fundada na influência, na persuasão, jamais haveria a certeza de que os bens públicos (saúde, educação, segurança, limpeza, transporte, investimentos etc)  seriam providos à população.
Somente fundando-se a vida social no poder, pode-se ter segurança de que os serviços e bens públicos serão providos aos indivíduos, e que estes terão que adaptar seu comportamento às regras legalmente vigentes.
Segundo Bertrand Russell, na sua elegante definição, o “poder é a produção de efeitos desejados”. O poder é simplificador, é um “atalho”. Como ele se exterioriza por comandos, garantidos por sanções, a probabilidade de que tais comandos venham a ser observados e cumpridos é muito alta.
Esta a razão porque os grupos sociais se organizam politicamente para conquistar o poder. Quem o conquista, ganha o governo, e, com ele, o poder.
Em outras palavras, ganha o direito  legítimo de usar aquela “massa de energia”, para realizar os objetivos para os quais foi escolhido.
O competente exercício do poder, então, não é apenas um atributo ou qualificativo de uma liderança. Muito mais que isto, ele é um imperativo da sobrevivência da sociedade, do seu ordeiro regramento, e da vida civilizada.

* O texto é originalmente do site "POLÍTICA PARA POLÍTICOS". Veja mais: