sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Vida Real


errado pensar que o amor vem do companheirismo de longo tempo ou do cortejo perseverante. O amor é filho da afinidade espiritual e a menos que esta afinidade seja criada em um instante, ela não será criada em anos, ou mesmo em gerações." (Khalil Gibran)


Vida corrida, obstáculos profissionais, dificuldades financeiras, incertezas gerais.

São os tempos modernos.

Houve um tempo, e não tão distante, em que as pessoas viviam, de certa forma, como se seguissem à risca um roteiro previamente elaborado, como uma espécie de receita de bolo ou manual de passo-a-passo para que o mundo seguisse sua rota. Era só estar num determinado padrão tradicional e familiar para que tudo desse certo. Ao menos aos olhos dos demais, da chamada "sociedade".

Assim, bastava ir à igreja, não faltar as aulas, integrar algum grupo social e de forma natural e metódica, tudo terminava bem: entraria-se no mercado de trabalho, encontrava-se o amor da nossa vida, nos casaríamos, vinham os filhos e o final feliz era garantido. Era a vida.

Foi sob a égide padrão que muitos casais sobreviveram (e não viveram) infelizes a longos e longos anos de ilusões, máscaras, mentiras, sofrimentos e angústias diversas, afinal, não havia outra forma. Não conviver em matrimônio nem pensar. Ser mãe solteira era o mesmo que morrer. Separação então era pecado capital. O modelo indicava: "Já pensou o que vão dizer??"

Parecia a vida ideal, mas de fato era apenas e tão somente a vida real.

A convivência não é fácil. Não mesmo.

Mas como afirmei lá em cima, vivemos hoje os "tempos modernos". 

Sem invocar o mérito da questão que impõe aceitações e concordâncias goela abaixo, da quebra de tradições e costumes, da desintegração da família, da total perda de valores, nem mesmo propor o que eu penso ser certo ou errado, quero apenas abordar a vida real, sem romance, direto ao ponto.

Vi a separação dos meus pais no início da adolescência, primeira metade dos anos 80, onde isto ainda era uma heresia. Saí para combater meu combate aos 16 anos, já vivendo a minha vida real, não a ideal. Tudo sempre muito difícil. 

O tempo passou. Fui para o mercado, estudando e trabalhando. Encontrei sim o amor da minha vida, que foi instrumento para que Deus me oferecesse amor ainda maior, incondicional e indescritível que é nossa filha.

Continuo estudando e trabalhando. Hoje tenho a certeza de que o mundo é mesmo um ambiente hostil e cruel, que te engole antes que você se dê conta disto, e neste mundo não há espaços para muitas fraquezas. Aliás, ele é implacável para com estes.

Este é o mundo. Mas não precisa ser necessariamente a vida. Pelo menos não a minha.

Ainda estou combatendo o meu combate, com todas as adversidades dos tempos modernos. Mas também estou vivendo a minha vida, revisando minhas escolhas, refazendo meus planos e dando graças de ter as pessoas que tenho ao meu lado.



Sei que minha vida pode ainda não ser perfeita, e não é. Tampouco ideal. Mas esta é a realidade da minha vida, e somente eu mesmo posso aproximá-la da vida ideal que eventualmente eu deva encontrar.

Ah! E quanto ao mundo hostil, cruel e implacável, não tem outro jeito a não ser vencê-lo.

Vivas para a vida. Viva a vida!