sexta-feira, 25 de novembro de 2011

"Ever Olan"

Estou caminhando a passos largos para, se Deus permitir, celebrar 40 anos de vida. Digo celebrar, pois nunca fui de comemorar aniversário, pelo menos, não o meu. Mais do que em outros tempos, ando questionando temas sobre mim mesmo. Minhas dúvidas sobre tudo, a teimosia que é minha sombra, um tanto de rabujo, que deve ser inerente aos anos vividos, e um sentimento quase incontrolável de que preciso mover-me, não no sentido de caminhar (odeio exercícios), mas de sair, viajar, ir e vir. E assim, numa espécie de gênesis, que etimologicamente quer dizer "no princípio" ou "para começar", vim desfazendo a fieira que me trouxe até aqui. Ao que parece, é genético. Minha querida vozinha, D. Olga, do topo de seus quase 96 aninhos, conta que, arrastada pelo seu Victor, meu saudoso avô, deve ter mudado de cidade mais de trinta vezes

Bem, meu pai diz lembrar-se de pelo menos umas vinte. Indo um pouco mais além, encontro o nome de Yuseff Kazimierz Raschkowsky, pai do seu Victor. Logo, Yuseff vira seu José, e Raschkowsky é adapatado primeiro para Roszkovicz e depois Roszkowski. Judeu puro, chegado ao Brasil na primeira década do século XX, a bordo do navio "Paranaguá", vindo da antiga Bessarábia, hoje um lugar entre a Bulgária, Romênia e Moldávia, aqui casa-se com uma cristã de origem polonesa, chamada Janina

Não sabe-se ao certo onde o Sr. Yuseff nasceu. É certo, que antes de chegar à Bessarábia, esta figura errante viveu na cidade de Alepo, ao norte da Síria, onde escrevia cartas comercias e letras de câmbio, e de lá, andejou comerciando de tudo entre a Grécia, sul da Itália, norte da África e outros centros comerciais nos entornos portuários do Mediterrâneo. Aqui chegando, foi estabelecer-se na recém criada Colônia Philippson, no distrito de Itaara, nos arredores da cidade gaúcha de Santa Maria

Claro, que muito rapidamente ele saiu de lá, e foi mascatear por Erechim, Joaçaba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba, onde nasceu o seu Victor. Este, logo vê-se obrigado a seguir a "carreira" do pai, pois como filho mais velho, assume cedo as obrigações de homem da casa (o Sr. Yuseff morre quando meu avô tinha 14 anos), e muito jovem começou a ganhar vida, na região do Irani, que à época era importante entroncamento comercial de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Margeando o Rio do Peixe e o Rio Uruguai, muito ele andejou de Joaçaba até Videira, subindo até Caçador, e de lá indo até Erechim e Porto Alegre, seguindo, intuitivamente os passos do pai. 

Foi em Erechim que conheceu a D. Olga, imigrante italiana, de família oriunda da Sicília, e como sabemos, foram mais de trinta mudanças, entre os anos trinta, até sossegar o ímpeto cruzador, quando em 1970, parando no meio de uma mudança rumo a Minas Gerais, chega em Guarapuava, e ainda aqui, vai e vem sem parar, comprando e vendendo em todas as regiões do Paraná. 

Depois de meados dos anos 80, sentindo o peso da idade, torna-se vendedor de doces na cidade, mas claro, sem ter estabelecimento fixo, e sim dirigindo uma velha Kombi da Malusa. 

Eu estaria junto dele, em 1997, quando após uma noite de agonia, talvez impulsionado pelo seu código genético, decidiu que, pela última vez, perto dos 90 anos, voltaria a viajar. Foi num Shabat que ele partiu

Viajou. Sinto a falta dele

Mas sinto também, que tanto ele quanto seu Yuseff, fizeram com que eu carregasse em mim este mesmo código genético: Viajar, permutar, comunicar, transmitir... "Ever Olan", em hebraico significa  "Nômade do mundo", "Homem de passagem" ou "Permutador de tudo". 

Ainda não completei 40 anos, mas já contabilizei residência em oito cidades diferentes

Raschkowsky, Roszkovicz ou Roszkowski

Pouco importa. Sou neto do seu Vito, que era filho do seu José. É assim que me sinto, é assim que eu sou.
Típico vendedor mascate do início do séc. XX