sábado, 10 de novembro de 2012

Dinossauro de mim

Conversando com alguns jovens, entre os quais, minhas sobrinhas, uma de 16 e outra de 19 anos, e minha filha de 11, ouvi o seguinte diálogo: 

- Nossa! Não tem nada esta semana...
- Parece que tem noite sertaneja.
- É? Que tipo??
- Não sei. É Kleiton e Kledir.

Fiquei preocupado. Muito preocupado, devo dizer. Não pelo fato de que os jovens certamente nunca tinham ouvido falar dos irmãos gaúchos que fizeram muito sucesso nos anos 70 e 80, numa época em que dupla sertaneja era sertaneja de verdade, no mérito, ao estilo Tonico e Tinoco, nem tanto pelo detalhe que os cantores de versos como "deu pra ti/baixo astral/vou pra Porto Alegre/tchau" jamais terem sido cantores sertanejos, mas sim de MPB. 

Minha preocupação derivou da constatação de que me transformei, rapidamente, em um dinossauro, ou qualquer outra espécie já extinta, ou, ainda, em fase de extinção.

Eu me criei respeitando os mais velhos, vivia ralado de tombos de bicicleta ou dos rachas no futebol. Fiz curso de datilografia e as provas do colégio eram passadas no stencil.

Ouvia Dire Straits no Walkman, gastava horas quebrando recordes no Atari e colocava fichas no orelhão para falar ao telefone público. 

Assim, num repente, deu-me a impressão que meu cérebro parou de funcionar quando o Renato Russo morreu. Aliás, dependendo para qual plateia se afirme, pode-se achar que o finado líder do Legião Urbana também era uma dupla sertaneja, o Renato e Russo, ou Russo e Renato. Que diferença faz?


Como sou um humanista convicto, as vezes até otimista, tento tirar algo positivo desta minha qualidade de ser extinto, ou em extinção, na conclusão de que, na pior das hipóteses, segundo a máxima Cartesiana do "penso, logo existo", eu ainda não fui dizimado da natureza, e aí é que reside a minha vantagem, pois devo ser espécie rara, e como toda raridade, sobrevivo por adaptar-me, e em conseguindo manter-me vivo, via de regra, me aprimoro e saio fortalecido no meio dos meus. 

Ou não. Como outra espécie rara, talvez simplesmente fique encrustado no passado, impresso em pergaminho aguardando sua redescoberta, tal qual um espectro de algo, ou um mero fragmento fossilizado daquilo que um dia existiu.

Vai saber...

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